Por que não acreditar – 3ª parte (final)

Quando se trata de Deus, não é diferente. Acreditar que existe um Deus todo-poderoso, que ouve suas preces, que o protege de perigos, e que criou um paraíso pra onde ele irá depois que morrer ― isso como uma espécie de bônus, pois só a perspectiva de ter “algum lugar para onde ir depois de morrer” já seria suficiente ― traz grandes benefícios para o crente: sociais, psicológicos, físicos e, muitas vezes, financeiros (se bem que este é mais frequente entre os pastores do que entre as ovelhas). Acreditar nisso lhe faz tanto bem, é tão reconfortante e lhe traz tantas vantagens que ele veria como um grande prejuízo o fato de “deixar de acreditar”, a tal ponto de:

1. dar prioridade, no nível social, aos relacionamentos e ao convívio com pessoas que compartilhem sua fé;

2. consumir produtos especialmente “desenhados” para ele: músicas religiosas, livros religiosos, filmes religiosos, programas de tv, etc.;

3. aceitar tão somente as informações que venham reforçar sua crença;

4. rejeitar consciente e inconscientemente qualquer coisa que venha de encontro às suas convicções religiosas;

5. permitir que outras pessoas que ele humildemente julga mais fortemente “conectadas” com Deus decidam por ele como ele deve viver a sua própria vida; e

6. aceitar, sem contestação, coisas que não entende, mas pelas quais seria capaz de morrer… ou matar. E é esse, segundo Richard Dawkins, um dos mais trágicos efeitos da religião: ensinar que é uma virtude ficar satisfeito em não entender.

O crente, portanto, está imerso num processo autoalimentador da fé, engenhosamente montado e mantido para protegê-lo das investidas da razão.

Entretanto, como no caso da Mala Azul, o outro lado da moeda seria o “descrente”, aquele que “acredita” que Deus não existe. E era justamente aqui aonde eu queria chegar: essa qualidade não pode ser atribuída aos ateus. Nós não temos fé com sinal invertido. Nós, ateus, não cogitamos a possibilidade de Deus ser real, assim como ninguém cogitaria a possibilidade de ser real eu guardar embaixo da minha cama um sextilhão de dólares. Não é questão de acreditar ou não: é apenas uma ideia absurdamente implausível demais que não merece sequer a dúvida educada das possibilidades.

Ser ateu é compreender que não existe um sextilhão de dólares.

O preço que pagamos por isso é o de termos que encarar a vida sem os benefícios e bálsamos que a fé proporciona. A vantagem é estarmos vivendo no mundo real, acordados, com a certeza de que esta é a única vida que teremos; o que a torna, por isso mesmo, ainda mais valiosa.


6 Respostas

  1. Como eu respondi pra uma garota religiosa no Orktu: eu não pretendo convencer ninguém de nada com este meu blog. Mesmo porque, nós, ateus, prezamos muito uma coisa que os religiosos só conhecem através dos dicionários: Tolerância.

    O blog é só uma forma de eu expressar minhas ideias livremente, pois, como lembrei a todos lá, nós ainda vivemos num país que permite isso, e não num país sob o comando exclusivo de religiosos, onde isso seria impossível.

    Não é de admirar, já que “Deus” ordena que quem crê “Nele” mate a pedradas os que não creem. Lembrei também que se fé e religião servissem pra alguma coisa, haveria um lugar na Terra que teria que ser, obrigatoriamente, uma amostra grátis do Paraíso: o Oriente Médio…

  2. Assim como o Dawkins [que prega tão fervorosamente quanto um fanático religioso], existem sérios enganos sobre a vida dos “crentes“. Quais sejam:
    Tópico 1: Isso não é característica só dos cristãos, as pessoas se agrupam por afinidade de escolhas. Quer um bom exemplo? Você andaria constantemente com um amigo gay assumido?;

    Tópico 2: Como faria o Lula: Se eu torço pro Flamengo, compraria camisas, bonés e canecas dos bambis? Por que leria livros espíritas, sobre budismo, etc? Um ateu leria “Uma vida com propósito“, “Orando em família“ e “Confissões de um Pastor“? Creio que não. Então por que eu teria que ler Dawkins e afins?;

    3: A todo momentos somos mais bombardeados por atitudes contra a nossa fé que a favor;

    4: Concordo plenamente. Só que pra rejeitar a gente tem que pelo menos conhecer. Não se pode rejeitar uma coisa sem conhecimento prévio. A Bíblia ensina: Julga tudo, retem o que é bom e livrar-te do mal.

    5: Essa é de longe a mais absurda! Muitas pessoas acham que um pastor (pela lógica seria a pessoa “mais fortemente co anectada a Deus“, pra usar suas palavras numa igreja) toca as decisões por seus congregados. Isso é puro mito. Eu já vi pastores serem afastados de sua igreja, por ter comportamento não condizente os preceitos Bíblicos. E o grupo é que o retirou.

    6: Os cristãos tem sim, contestações sobre a Vida, a Bíblia, mas tem a resignação que, a medida, que busca conhecimento na Bíblia e em oração, essas contestações vão sendo respondidas ou mesmo saberá que não há resposta que atenda à razão humana.

    Agora, entre aceitar o que está na Bíblia, os resulatdos práticos testados e comprovados na vida de muitos cristão, e as idéias de um “iluminado“ que enriquece de dar palestras e vender livros, que não conhece a Bíblia, e se comporta da mesma forma proselitista que as pessoas que ele tanto critica, eu prefiro a primeira opção.

    Eu já lhe falei isso um dia: esse Richard Dawkins é digno de misericórdia. Um frustrado espiritual que viu na Ciência um modo de negar a Deus. Mas a Ciência é só uma forma de estudar a obra de Deus.
    No fim, esse “debate“ está sendo enriquecedor demais pra mim. A cada texto que leio sobre a não existência de Deus, eu vejo o quanto ele é real e importante pra nós.

    Grande abraço, Barrê.

  3. Sobre o tópico 1. Sim, eu andaria sim, constantemente, com um amigo gay assumido. Se fosse meu amigo, como você argumenta, não haveria problema nenhum para mim. Se ele (ou ela) prefere transar com uma pessoa do mesmo sexo não é problema meu (nem de ninguém, diga-se de passagem).

    Sobre o tópico 2: Os crentes consomem, sim, produtos “desenhados” para eles, como todos nós fazemos, como você apontou. Mas nós não preterimos todos os outros. Eu sou ateu, mas leio a Bíblia, gosto de entender o pensamento de membros de religiões diferentes, procuro me inteirar sobre suas doutrinas, procuro entender a mente dos “criacionistas”, etc…. não sou excludente. O religioso é.

    Sobro o 3: Argumentos contra e a favor sempre existirão contra quase qualquer coisa. A questão que eu levantei é uma censura prévia que é feita na mente do religioso: “Isso está de acordo, é a favor da minha religião? Ótimo, vou dar uma olhada. Ah, não é? Vai de retro Satanás!!!”

    4. Que bom que você concorda. E fique de olho no blog, pois eu vou postar em breve umas coisas sobre essa formidável capacidade que os religiosos têm de só enxergar o que a Bíblia “tem de bom” e não ver o “lado negro da força”.

    5. As religiões governam com mão de ferro o seu rebanho. Nada disso é mito: os homens-bomba; infibulações (= o órgão genital das meninas é costurado para ser aberto apenas na noite de núpcias pelo seu “dono”); circuncisões; proibições de tudo quanto é tipo — geralmente mais voltadas para a mulher, já que para Deus o homem tem que ser o cabeça do casal–, como a de uma mulher solteira só poder sair na rua na companhia de um membro do sexo masculino da própria família, caso contrário, será apedrejada até a morte; o costume amplamente arraigado na cultura de muitos países religiosos do Oriente Médio, como o Afeganistão, em que, para “punir” certos tipos de crime de um homem, a sociedade aceita e incentiva a barbárie de que a irmã do criminoso seja estuprada por vários homens da família da vítima do tal crime; e por aí vai… a lista é longa e me dá ânsia de vômito.

    6. Já vi que vc concordou com esse também. Pois é… Se as pessoas parassem para raciocinar… os muçulmanos, por exemplo, passam uma vida toda se privando de pensamentos impuros acerca do corpo feminino, de sexo de uma forma geral — obrigam suas mulheres a se cobrirem da cabeça aos pés para não mostrarem nada do próprio corpo que os faça pensar bobagens e, por conseguinte, irem para o Inferno –, todo esse sacrifício e cuidado para terem a chance de, depois da morte, irem para um lugar, numa outra dimensão, onde estarão esperando por eles 72 virgens… Ou seja, nessa vida terrena, não, mas no céu tá liberada a sacanagem!!!!

    Eu já lhe disse isso uma vez também: só vou aceitar suas críticas sobre Dawkins quando você tiver “lido” Dawkins. Antes disso, tudo que você fala é apenas reflexo do meu item 3 acima… rsrsrsrsrsrs

    Grande abraço, meu amigo!

  4. Ta aí dois caras que eu admiro muito: Barros e Barboza…mas minha posição é clara…ATEU…pena que não tenha tempo, muito menos essa inteligência para argumentar.

  5. Muito bem JOEL. seu comentário já é de grande força neste mundo de crentes…ter a coragem de dizer que é ateu, é um grande feito!
    Ser ateu é só pensar questionar…desde os 16 anos sempre tive curiosidade sobre as contradições dos milagres…da morte provocada na bíblia…na existência de um Deus que pode ser bom, mas também é desgraça…criaram até um diabo..pra dizer que representa o mal..
    Não sei a cara de Deus..não medi seu campo elétrico, magnético..não sei o peso…nem sua força no dinamômetro…nem sua energia….e pra que serve o Deus…..pelo visto ele não entra em nenhuma equação da física….mas é um fantasma assombrando a mente doa incautos….das crianças…dos pobres medrosos…..
    SE Deus existir seria melhor trucidar todo nós Ateus..porque morrerei assim..sem medo de inferno
    valeu..

  6. Excelente! ! Dawkins e Hitchens são vitoriosos, por não abrirem mão da única caracterisca distintiva do ser humano:a Razão São legatários de mentes lúcida s como Epicuro, Lucrécio, Espinoza e Feuerbach.

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