A verdade sobre a crença em Deus

 

Texto de Greg Barros

 

Muitos são aqueles que acreditam, mas são poucos os que sabem o porquê deste acreditar e que param para pensar sobre essas coisas da vida. E para reforçar os mitos e as crenças o ser humano tem uma aversão terrível às mudanças, portanto prefere o engano à verdade.

Mas eu que vos escrevo tenho a pretensão de afirmar que não é o medo da morte o maior temor e a particularidade mais aguda da crença na crença, dos religiosos nas religiões, dos “deusistas” em Deus. O que faz o vício no faz de conta ser tão forte e até belo, vendo por uma ótica imparcial e de fora dos antolhos e cabrestos dos misticismos e religiões, é algo tão comum e intrínseco ao ser humano que passa despercebido nas discussões e na própria reflexão sobre o tema.

É algo que todos sentem, religiosos e ateus, e que se tem uma necessidade incontrolável de amenizar, mas no fim das contas é insaciável. Ela é invisível, imaterial, “aespacial” (como gostam os crentes que inventam coisas) e por “incrível” coincidência tem quase todos os atributos de Deus.

Se você nestas poucas linhas ainda não descobriu, eu te digo: Carência. Ela mesma. “Carência afetiva”, “emocional”, como você quiser, mas se resume a isso. Essa palavra é que faz toda a mágica acontecer e a roda girar e o mundo ser o que é. O ser humano é extremamente carente e preenche esse vazio com um “negocinho” chamado Deus.

Não vou me ater a argumentos científicos e aprofundar de forma empírica, nem de forma filosófica, muito menos teológica. Essa última nem merece crédito, porque ela nasceu desta carência. Basta observar à sua volta e conferir, não precisa sentir, invocar ou colocar sentimento nisso, apenas repare e veja com os olhos de quem quer ver. No fundo, todos têm aquele vazio, sentem aquela solidão que nenhum familiar pode suprir, nem nada deste mundo. Por isso se fez necessários deuses, heróis e religiões.

Busca-se num outro lugar: Céu, Paraíso, e até mesmo Inferno, por algo que não nos deixe sozinhos neste espaço-tempo. Acho até que a carência existencial é tão grande que se apenas existisse “o Inimigo” já bastaria para satisfazer os corações sedentos por compartilhar mais relacionamentos. Para deixar o argumento mais claro, segue um trecho que vi no Facebook, (um novo lugar para cultos e desespero crental, diga-se de passagem):

Continuo amando e acreditando em Deus, mesmo quando os “milagres” que imploro não acontecem, pois os milagres que imploro e os pedidos que faço, se baseiam em minha vontade, e Deus não está aqui pra me dar o que eu desejo. Deus está aqui é pra me dar o que eu preciso!

Na verdade, Deus está aqui para satisfazer minha carência, deveria ter dito o autor. E outra, de que adianta orar então para o que você quer, se a vontade que prevalece é a de Deus e não a sua? Tem mais um trechinho aí:

Ninguém pode te amar, como JESUS te ama! Simplesmente porque JESUS não tem amor: Ele é o amor! O verdadeiro amor, que não pode ser encontrado no coração humano, pois vem do alto, é espiritual, sobrenatural, sagrado. JESUS não esperou ser amado por você, para também te amar. Ele já te ama, agora, ontem, amanhã e sempre. O Seu amor divino não estabelece condições ou imposições para te amar.

Olha que pessoa carente! Querendo ser amada a todo custo. A maioria esmagadora dos seres humanos tem essa necessidade levada ao extremo, por isso se deixam enganar com meia dúzia de palavrinhas falaciosas de gente que usa essa necessidade humana para beneficio próprio. Sem nenhum pudor, sem ao menos pedir licença. Muitos se propõem a pagar por este amor, como se isso pudesse ser comprado em qualquer esquina.

Pior do que a tristeza do fim da existência, de que todos temos plena consciência, é a dúvida que paira sobre as mentes que, mesmo dizendo ter certeza da existência do sobrenatural, precisam ficar esgoelando e quase obrigando os outros não crentes, com mandingas e ameaças, a aceitar a sua carência como aquela que pode trazer a paz e felicidade.

A carência é tão grande que desde pequenos brigamos por atenção e reconhecimento, já destilamos ciúme, uma pitadinha de inveja e a vontade de nos destacarmos numa competição saudável, mas selvagem em relação a nossos adversários. É natural, sem dúvida. Só não é natural aquilo que os adultos que sofrem do mesmo dilema descobriram para iludir suas vidas. Heróis superpoderosos que vivem em outro mundo. É dito pelas religiões e seus líderes que já nascemos propensos à fé, mas o que se percebe é que já nascemos com a “carência” incrustada em nós, como uma bactéria ou vírus que não tem cura, uma doença autoimune com a qual temos que conviver até os últimos dias de vida. Só não devemos sofrer com ela esperando que a “carência” seja preenchida por alguém se não outro ser humano carente como nós.

Viva a verdade por mais que ela doa, porque no fim de tudo o máximo que você pode fazer é compartilhar essa sua doença com a pessoa infectada que está ao seu lado, te ajudando, te amando e também suportando essa breve existência que deve ser ao menos digna de se viver constantemente CARENTE. Não troque o seu tempo nem um ser nas suas mesmas condições por um Deus. Como diz um trecho de uma música do Cazuza: “Eu quero alguém na beira da praia. Eu quero alguém que use calça ou saia. Eu quero alguém! Eu quero alguémmmm!”.

Só não dê a esse “alguém” o título de Deus, pois talvez você se arrependa! Aí não adianta chorar quando o ser “alguém” real se for. Ele não volta!

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